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A disbiose intestinal e o transplante fecal


A disbiose está presente em vários dos problemas mais comumente observados na clínica de pequenos animais, como diarreias e vômitos, mas infelizmente ainda é pouco considerada como fator causal dessas patologias. Inúmeros animais chegam anualmente às clínicas veterinárias com quadros de vômito e/ou diarreia crônicos e não são corretamente diagnosticados e tratados, por desconhecimento dos processos disbióticos.


DISBIOSE


A saúde dos animais depende diretamente de uma flora bacteriana intestinal equilibrada e rica em bactérias benéficas. Quando ocorre um desequilíbrio na flora bacteriana comensal, associada à proliferação de germes patogênicos, pode-se afirmar que o animal sofre de disbiose. A disbiose pode acarretar alterações patológicas do trato gastrointestinal. Não é possível, contudo, determinar se ela é a causadora da doença ou se a manifestação da doença do trato gastrointestinal é a consequência da mesma.


As bactérias comensais são fundamentais na manutenção da saúde intestinal. Elas induzem a produção de muco, que é um importante agente protetor mecânico da mucosa; estimulam a proliferação das células da mucosa do intestino, os enterócitos; e auxiliam na extração e na digestão de nutrientes, contribuindo na produção de ácidos graxos de cadeia curta, vitamina K1, B9 e B12. Essas bactérias também evitam a invasão de patógenos através da competição direta por nutrientes, além de estimularem a produção de peptídeos antimicrobianos pelos enterócitos e exercerem função imunomoduladora no organismo do hospedeiro.


Essa alteração no microbioma do trato digestivo pode ser primária, sem causa aparente ou secundária a alterações na composição das secreções do trato digestivo (o suco gástrico, os sais biliares e as enzimas pancreáticas possuem ação antibacteriana) ou alterações de motilidade intestinal. Redução na produção de anticorpos secretados na mucosa intestinal (IGA), redução na oxigenação da mucosa ou presença de sangue na mesma, uso de antibióticos e anti-inflamatórios também podem predispor o animal à disbiose.


DIETA E TRANSPLANTE FECAL


O tratamento da disbiose consiste em repor flora bacteriana saudável e fornecer subsídios para seu crescimento e consequente equilíbrio da flora do trato gastrointestinal. Nesse ponto, destaca-se a importância da dieta e do transplante fecal.


Os componentes da dieta afetam diretamente a composição e função do microbioma, daí advém a importância de uma dieta rica em componentes que favorecem a diversidade da flora bacteriana e a alimentação natural crua em comparação à dieta industrializada favorece o crescimento das bactérias comensais. Existem trabalhos que relacionam o consumo de B.A.R.F com uma maior excreção fecal de componentes como isomaltose e GABA, que são produzidos através da ação de bactérias comensais benéficas.


O transplante fecal, por sua vez, consiste na reposição de flora bacteriana através do uso oral (cápsulas) ou retal de fezes de indivíduos saudáveis visando recolonizar os indivíduos disbióticos. A técnica foi desenvolvida para tratamento de humanos portadores de diarreia crônica decorrente da infecção com Clostridium dificile. É uma técnica simples e que não possui efeitos colaterais, recurso muito útil no tratamento das diarreias em animais.


A associação da dieta adequada e do transplante fecal é uma grande ferramenta para a abordagem das doenças do trato gastrointestinal.



Dra. Renata Queiroz

Contato: acasinhavet@gmail.com


BIBLIOGRAFIA


Redfern, A., Suchodolski, J., Jergens, A. Role of the gastrointestinal microbiota in small animal health and disease. In Veterinary Record 181, 370, 2017.


Schmidt M, Unterer S, Suchodolski JS, Honneffer JB, Guard BC, Lidbury JA, et al. The fecal microbiome and metabolome differs between dogs fed Bones and Raw Food (BARF) diets and dogs fed commercial diets. In PLoS ONE 13(8): e0201279, 2018.


Wernimont SM, Radosevich J, Jackson MI, et al. The Effects of Nutrition on the Gastrointestinal Microbiome of Cats and Dogs: Impact on Health and Disease. In Front Microbiol. 2020;11:1266. Published 2020 Jun 25.

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